A escolha profissional dos seus filhos
- gisellylira

- 3 de dez.
- 4 min de leitura

Quando eu era orientadora profissional em uma rede de ensino (colégio e curso pré-vestibular) atendia mais ou menos 1000 alunos, ouvi histórias muito impressionantes (e assustadoras) sobre famílias e escolha profissional.
Tinha uma aluna que estava no cursinho há 6 anos e que sonhava em ser Advogada. Eu pensei "Poxa, estranho alguém levar 6 anos para ser aprovado no curso de Direito". Até que ela me explicou que a mãe exigia que ela fosse médica, e ela não conseguia contar para ela do sonho de trabalhar como Advogada, porque "as coisas ficariam feias em casa". Então todo ano ela fazia 2 vestibulares para Direito e era aprovada para o curso, mas a família toda procurava o nome dela na lista de Medicina, e, quando não encontravam a aprovação médica, vinha novamente a frase "Mais um semestre de cursinho para você".
Essa história me chocou, e eu não podia deixar de pensar que, nesses 7 anos de cursinho, essa já jovem já poderia ter se formado em Direito e estar construindo a sua carreira feliz da vida. Mas a família pesava mais.
E o rapaz que já era Advogado, mas (este sim!) sonhava em ser Médico? Ele já tinha seus 35 anos, era casado e tinha 2 filhas. Se formou em Direito depois do Ensino Médio pra dar continuidade no escritório de advocacia da família (típico). Mas seu sonho mesmo era ser médico, coisa que não era aceita porque "quem iria tocar o escritório da família?", não é mesmo? Então ele se arrumava cedo pra ir pro escritório (com gravata e tudo), dava um beijo na esposa e fazia uma curva no trajeto pra vir ter aulas no cursinho pré-vestibular. Estava decidido a fazer o vestibular pra Medicina, mas a esposa e seus pais não podiam ficar sabendo disso. Era segredo de Estado!
Eu poderia ficar horas aqui falando sobre todos os casos em que a família acabou prejudicando sonhos profissionais, como a jovem que fez Orientação Profissional comigo porque não conseguia escolher nenhum caminho profissional, já que sentia que "só daria orgulho para família se fosse a melhor profissional do mundo na carreira que escolhesse" (e isso é pressão demais para qualquer pessoa, convenhamos).
Tem aqueles que ficam emperrados na escolha porque vão ser criticados nos churrascos familiares, ou porque não querem viver o sonho que os pais queriam ter vivido profissionalmente, ou porque vão ser menos valorizados por aqueles que tanto amam. Parece exagerado? Bom, não é. Todos nós queremos dar orgulho pra quem é importante para gente, mas muitas vezes "dar orgulho" vai por um caminho, enquanto nossos sonhos e projetos vão por outro.
Agora uma história pessoal (porque eu também falo por experiência própria). Quando minha mãe estava grávida de mim, meu pai já pensava que eu seguiria a carreira de Engenharia, pois esse era seu sonho, mas como ele seguiu a carreira militar não teve essa oportunidade e depositou essa expectativa em mim e depois no meu irmão. Eu até cogitei a carreira de engenharia, mas entendi (a tempo) que não era o que eu queria. Acontece que eu saí do Ensino Médio aprovada Psicologia, e obviamente segui o meu sonho (e não o sonho do meu pai). E hoje meus pais ficam felizes contando aos conhecidos que eu sou uma psicóloga realizada que ajuda as pessoas a fazerem bem suas escolhas profissionais.
Só que o que ouço, quase sempre nos meus atendimentos, são relatos de uma distância colossal dos pais nesse momento de decisão. Eu mesma, quando era orientadora profissional no colégio/cursinho pré-vestibular, pouquíssimos pais me procuravam para conversar sobre a escolha profissional de seus filhos.
E aí ficam as grandes incógnitas: a gente sabe que os pais querem que os filhos façam boas escolhas para o futuro. A gente sabe que os pais querem um futuro seguro e confortável pra esses filhos. Mas cadê os pais que realmente estão ajudando? Cri-cri.
Existem algumas hipóteses, é claro:
Os pais têm uma rotina muito atribulada, a gente sabe. Milhares de atividades cotidianas, às vezes até mais de uma atividade profissional simultânea.
Alguns pais acreditam que a melhor forma de ajudar a escolha profissional dos seus filhos é mantendo distância e deixando que os próprios filhos decidam.
Outros acreditam que não vão concordar muito com a decisão que for tomada, então se mantêm distantes pra evitar atrito.
Outros se sentiram chutados pra fora desse momento pelos próprios filhos.
Outros não querem nenhum profissional se envolvendo nessa história toda.
Outros não fazem a menor ideia de como é que se faz boas escolhas profissionais, afinal de contas.
A questão é a seguinte: muitos jovens estão sendo ajudados por mim de diferentes formas, e sei que essa ajuda pode ser ainda mais poderosa se os pais começarem participar desse momento importante. Porque todo mundo só tem a ganhar com isso (principalmente quem tá fazendo a escolha profissional).
Giselly Lira
Psicóloga | Orientadora Profissional
CRP 05/21198






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